13.12.10

O velho poema

encontrei no teu bolso um mapa

com as minhas constelacoes epiteliais
encontrei na tua boca um céu

com as minhas conjugações verbais

entre beatles e livros
na frente de um armário
sob um céu de flores
respirando as cinzas
de um antigo rosário

12.11.10

Flores de Nabokov

o choro do mundo
o coro da dor

o canto das flores
o tanto de amor

o surto indevido
o curto sentido

o velho abraço
o nervo de aço

a janela e a cortina
a pele e a retina

os livros calados
os beijos não dados.

Era o hiato mais charmoso do vocabulário. Fazia pronúncia de vocábulo de classe e tudo mais, o hiato metido. O pomposo, contudo, ai contudo, ia se tornando um desfalecimento de órgãos, a perda da poesia, a merda da poesia. O hiato era pronunciado com dor, com doses de álcool, com olhos sem os olhos, com infinito longe de coração, com coração longe das retas.
O hiato era maldito e mal sabia. Sabia da vontade contida, retida, cortada, talhada de ser ditongo. Vontade maldita, mal dita, mal dita. Já não aguentava a possibilidade da separação das suas sílabas, a dor do seu sentido, a solidão das suas letras. Ditongos, pequenos encontros armados pelo destino que fazem as partes de mim se encontrarem e dali nunca separarem. Nem dia das crianças nem Círio nem natal nem ano novo, nem no anteceder do encontro final no infinito. Ah, céus, como o hiato queria ser ditongo. Ele fora maldosadamente, inescrupulosamente, pejorativamente escolhido para ser o hiato mais bonito. Ironicamente, a vida, ai a vida, escolhera o hiato para ser o mais doloroso dos impactos, o mais amiúde das vidas infelizes, dos olhos sem fim. O hiato pomposo era metido, era infeliz, era estranho por sentir que transmitia todas as doses que a vida tem de maldade.
O hiato queria ser ditongo porque não aguentava mais ser sa-u-da-de.

8.11.10

A tua senha

Não desvie a minha estrela.

7.11.10

Parte -1

(When I get to the bottom I go back to the top of the slide and I stop and I turn and I go for a ride and I get to the bottom and I see you again).

Parte 0

As pessoas da minha sociedade
têm tentáculos que se perdem
no caos da dor de cada dia.
Brincam de rezar
de cabeça pra baixo
olhando os pés dos santos
e contando gotas que
a chuva deixa pingar nos cílios.
As pessoas dos meus olhos
têm flores em terras estranhas
eu rego rego rego
elas morrem morrem morrem
Então eu compro um altar
um altar com adubo santo
e cuido delas com meus tentáculos
para que eles não se percam
no caos da dor de cada dia
para que no altar com adubo
só fiquem as flores regadas
para que jesus e sua coroa
não veja a minha dor crua
ajoelhada e dizendo amém
Rezando pra santos de cabeça pra baixo
e os jogando no mar depois
As gotas nos meus cílios
são o choro do caos dos meus irmãos
que eu fiz evaporar
para não haver nada no meu altar
que fizessem as minhas flores mortas
eu não aguento mais
pessoas morrendo engasgadas
com as pétalas das flores que eu envenenei
com um amor doentio.

Em nome do pai e do resto.

Pro-teção

chuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasolchuvasol

Te abstenho da minha conjuração que pede preces e exorcismo.
(É pro teu melhor).